Entrevista Exclusiva a Juan Shang, Vice-Presidente do Kwenda Institute (parte I)
Angola: de quase 200 mil trabalhadores chineses em 2016, agora são cerca de 20.000.
Em conversa com esta revista económica, Juan Shang, vice-presidente do Kwenda Institute, com sede na China, respondeu, entre outras questões, sobre as relações comercias entre Pequim e Luanda, a influência do investimento chinês em África, bem como “dá palpites” para atrair turistas a países, com as chamadas “economias amigas” da China.
Ao ser abordado por “Mercados Africanos”, o também investigador do Centro Chinês de Estudos dos Países de Língua Portuguesa (CCEPLP) e da Universidade de Economia e Negócios Internacional da China mostrou, ainda, ser um conhecedor da diplomacia económica chinesa em África, principalmente das relações entre Pequim e Luanda, ao descrever, com precisão, os números de empréstimos e a visão da administração de Xi Ping com o mundo, apesar da crise pandémica que “infectou” a praça financeira das principais balanças comerciais do mundo.
Eis à entrevista.
Mercados Africanos: Que avaliação faz da cooperação sino-angolana?
Juan Shang: Quando analisamos o investimento chinês em Angola, temos primeiro que conhecer o investimento de empresas chinesas em África, que é amplamente distribuído em quase todos os países africanos.
De acordo com estatísticas do Ministério do Comércio da China, no final de 2020, o total dos investimentos das empresas chinesas na África do Sul, RDC , Zâmbia, Angola, Etiópia, Nigéria, Gana, Argélia, Quênia, Tanzânia, Egito e República do Congo totalizaram cerca de 32,4 mil milhões de dólares americanos.
Devido às enormes diferenças entre os países africanos em termos de dotações naturais, condições económicas, ambiente de negócios e relações com a China, o investimento das empresas chinesas em diferentes países também tem características diferentes.
Nós categorizamos os 12 países onde o investimento da China está relativamente concentrado em três grupos, ou seja, países de renda média, ricos em recursos e não ricos em recursos, e analisamos as características do investimento das empresas chinesas.
Os países de renda média incluem África do Sul e Egito, ricos em recursos Nigéria, Angola, República do Congo, Zâmbia, Gana, Argélia e RDC e não ricos em recursos incluem Etiópia, Quénia e Tanzânia.
A República de Angola é o segundo maior produtor de petróleo de África, também é o segundo maior parceiro da China em África. Desde o fim da guerra civil em 2002, Angola acumulou riquezas rapidamente graças aos elevados preços do petróleo, e promoveu o desenvolvimento das cidades e infraestruturas a nível nacional, com prioridade para a capital, Luanda.
Com a queda do preço do petróleo desde 2015, Angola tem implementado ativamente uma estratégia de diversificação da economia, numa tentativa de promover outras indústrias e reduzir a sua dependência da indústria petrolífera.
No fim de 2020, o investimento direto da China em Angola era de aproximadamente 2,6 mil milhões dólares americanos, representando 5,5% do investimento direto da China em África.
Nos últimos anos, as empresas chinesas, especialmente, as privadas, incluindo Qingdao Yewhing, Xuntong Internacional, Zhejiang Yonder, Hasan International e Guangde Internacional, expandiram os seus campos de investimento em resposta à diversificação económica de Angola, nos setores da construção, comércio, imobiliário e manufatura, os quais cresceram rapidamente.
Apesar de terem aparecido alguns problemas financeiros, como a taxa de câmbio e segurança, o investimento das grandes empresas da China continuou, embora o das pequenas e médias tenham tido um forte decréscimo.
Porque digo eu isso? Através de quantidades de cidadãos chineses em Angola, podermos chegar a esse resultado.
Antes de 2016, trabalhavam em Angola quase duzentos mil chineses, agora sobram vinte mil e quando a quantidade diminui fortemente isso significa que o investimento também decresceu.
A quantidade de investimento chineses também baixou devido à pandemia, mas no pós-pandemia o investimento vai voltar a subir. Mas as entidades angolanas, os departamentos ministeriais, precisam também de formular políticas de investimento para estrangeiros.
(continua)