Entrevista Exclusiva a Carlos Lopes, Professor na Universidade da Cidade do cabo, na ocasião do lançamento, em português, do seu último livro:
África em Transformação: Desenvolvimento Económico em Tempos de Dúvida
No seu último livro que será lançado neste sábado, 28 de agosto 2021, na Feira do Livro de Lisboa, o economista de desenvolvimento Carlos Lopes, após quatro anos à frente da Comissão Económica para África, identifica oito grandes desafios que o continente enfrenta e oferece-nos muitos caminhos para repensar o desenvolvimento do continente numa perspectiva de narrativa africana.
Durante a entrevista que nos concedeu, o Bissau-guineense Carlos Lopes, Alto Representante do Presidente da Comissão da União Africana para as Negociações com a Comissão da União Europeia, questiona o futuro de África, em particular através da sua visão de desenvolvimento.
Falou-nos das mudanças sem precedentes que vive o Continente e disponibilizou o seu vasto conhecimento e perspicácias à disposição de todos, neste livro que nos parece ser uma ferramenta indispensável e necessária para qualquer pessoa que queira compreender a África de hoje.
Na conversa tida com Mercados Africanos, Carlos Lopes quer pensar num novo caminho de desenvolvimento para África, longe da ideia de que os países “em desenvolvimento” devam seguir o modelo de desenvolvimento conhecido pelos países “avançados” e isto, inclui, imaginar outro modelo de industrialização, mais verde e sustentável.

A demografia dominada por jovens com uma idade média de 19 anos, foi também abordada. Segundo ele, o continente está cada vez mais dividido em dois blocos: de um lado, os países reformistas que estão a transformar as suas economias e querem dar respostas às aspirações de suas populações, e de outros países que se acomodam com o tradicional e que têm dificuldades em se reformar.
A ajuda pública ao desenvolvimento foi igualmente tocada e de forma critica considerando que a mesma deveria ser orientada para permitir que os governos africanos pudessem expandir a sua base tributária e para financiar, eles próprios, as suas próprias prioridades.
A nova distribuição efetuada pelo FMI dos Direitos Especiais de Saque (DES) nesta segunda-feira 23 de agosto 2021, não poderia deixar de ser explicada por Carlos Lopes, que insistiu sobre as necessidades do continente que de longe ultrapassam os 33 mil milhões de dólares.
Neste sentido e segundo ele, os 100 mil milhões tão falados durante a Conferencia de Paris organizada pelo presidente francês, de forma unilateral, não serão a vir concretizados.
Os contornos dos atrasos e dificuldades na organização da Cimeira União Africana/ União Europeia forma elucidados.
Finalmente o papel dos média africanos em escreverem e divulgarem uma narrativa africana do desenvolvimento do Continente fez parte da conversa.
Muito mais haveria para conversar, mas só tínhamos meia hora. Ficará para uma próxima oportunidade.
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