Kush, a superpotência africana esquecida.
Hoje em dia já ninguém se lembra do império de Kush, mas não só foram a maior superpotência africana, como chegaram a conquistar o Egipto.
A grande pirâmide de Gizé, no Cairo, é considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas quem seguir o curso do rio Nilo e viajar rumo ao sul, até ao território onde hoje é o Sudão, vai-se deparar com milhares de construções similares, que pertenceram ao reino de Kush.
Kush foi uma superpotência africana e a sua influência estendeu-se até o atual Médio Oriente. O reino existiu por centenas de anos e, no século 8º antes de Cristo, conquistou o Egito, governando-o por décadas.
O império Kush perdeu-se na história, mas o que sobrou dessa civilização é impressionante.
O Reino de Kush
O Reino Nubio de Kush foi um antigo reino africano situado nas confluências do Nilo Azul, Nilo Branco e Rio Atbara, no local em que se situa hoje a República do Sudão
O Reino emergiu por volta de 1000 AC, a partir da cidade de Napata, após a desintegração do Novo Reino do Egipto e da queda da 24ª dinastia egípcia, com o colapso da Idade do Bronze, tornando-se a principal potência na região do vale do Nilo.
Quando o rei Kashta invadiu o Egipto no século 8 AC, os reis akushmitas governaram grande parte do Egito de 712 a 657 AC. A 300 AC, a partir de Gizé, tornando-se os faraós da vigésima quinta dinastia durante um século, até serem expulsos por Psamtik I em 656 AC.
Após a sua saída do Egipto, a capital e o cemitério real do reino mudaram-se para a região de Meroe, levando a tradição faraônica de construir pirâmides com eles.
Actualmente, as ruínas de Meroe, a antiga capital do Reino de Kush, erguem-se no meio do deserto árido e inóspito como um cenário de filme de ficção científica. Aninhadas entre dunas de areia, as pirâmides isoladas parecem ter sido esquecidas pelo mundo moderno, sem restaurantes ou hotéis próximos para atender aos turistas.
As pirâmides do Reino de Kush, mais pequenas, mas tão impressionantes quanto as suas primas egípcias mais famosas, encontram-se na margem leste do rio Nilo, perto de um grupo de aldeias chamadas Bagrawiyah.
As pirâmides reais foram construídas na Núbia aproximadamente 800 anos depois de os egípcios pararam de construir as suas pirâmides. Mais de 50 pirâmides antigas e túmulos reais erguem-se das areias do deserto em Meroe.
As pirâmides Núbias de Meroe são as mais bem preservadas das mais de 300 pirâmides do Sudão. São os túmulos reais de mais de 40 reis e rainhas núbias do reino de Kush.
O legado
São conhecidas mais de 300 pirâmides intactas do reino de Kush que se mantiveram praticamente inalteradas desde que foram construídas, há cerca de 3 mil anos.
As mais sumptuosas encontram-se em Jebel Barkal, uma pequena montanha no Sudão do Norte que, em conjunto com a cidade de Napata, são consideradas, pela UNESCO, património da humanidade.
No local, além das pirâmides, há tumbas, templos e câmaras funerárias completas, com pinturas e desenhos que a Unesco descreve como:
“Obras-primas de um génio criativo que mostram os valores artísticos, sociais, políticos e religiosos de uma comunidade com mais de 2 mil anos de história”.
Os akushmitas eram na sua maioria agricultores, mas também artesãos e mercadores. Eles vendiam ouro, incenso, marfim, ébano, óleos essenciais, penas de avestruz e peles de leopardo.
Além de possuírem minas de ouro e terras de cultivo, o reino de Kush ocupava uma localização comercialmente estratégica, dado que era de lá que se transportava mercadorias pelo rio Nilo e também por estradas que levavam ao mar Vermelho.
As suas riquezas chegaram a rivalizar com as dos faraós. Mas até hoje o legado de Kush ainda não é amplamente conhecido, inclusive em África, onde continua pouco divulgada, a história deste reino fabuloso onde as rainhas podiam governar por direito próprio.
O esquecimento
Para muitos especialistas, foi por força da influência colonialista, que a história do reino de Kush se tornou pouco conhecida, até entre académicos e professores africanos. Por causa do colonialismo, não houve acesso a um relato integral e cronológico da história de Kush, da mesma forma, que em relação ao resto de África.
Dessa forma, a sua história caiu no esquecimento e, apesar de existirem sítios arqueológicos fabulosos, os mesmos estão por explorar, pois a história do Egipto, talvez por ser próxima à europeia, é mais estudada e procurada.
E infelizmente, este “esquecimento” reflete-se por toda a África, onde reinos que rivalizavam com a europa medieval, como o reino do Zimbabwe, continuam rodeados de um manto de misticismo.
Hugh Trevor-Roper, um dos mais destacados historiadores britânicos de todos os tempos, disse:
“Talvez no futuro seja possível ensinar algo sobre a história de África. Mas até o momento não há nenhuma ou quase nenhuma: só existe a história dos europeus em África. O resto é escuridão, assim como ocorre com a história pré-europeia e a pré-colombiana na América”.
Esta frase é de 1965, mas continua tão actual hoje, como no dia em que foi proferida.
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Imagem: © 2012 Darren / TravelBlamog